*Por Circe Cunha
Uma das maiores falácias, difundidas
aos quatro ventos pelos políticos de modo geral, é que sem partidos políticos
não pode haver democracia. Esse argumento equivale a dizer que sem cachorro não
existe linguiça. A afirmação correta deveria ser: com os atuais partidos,
envolvidos nas mais desavergonhadas práticas de corrupção, não pode e nunca haverá
democracia em nosso país. O que temos é uma encenação.
Obviamente, em países que se pautam pela ética, a importância dos
partidos para a democracia é dada pela ligação direta existente entre as
legendas e as reais aspirações da população. Deslizes não são aceitos. Por
aqui, os partidos funcionam como uma espécie de clube fechado, onde as
lideranças se comportam como donas da sigla, sem obediência alguma às normas do
estatuto, e prevalecendo as atitudes corporativas, mesmo as que
afrontam o eleitor e a ética.
Na realidade, os partidos não representam ninguém, além deles mesmos e
de seus interesses imediatos. De modo geral, o que se tem são políticos que
adentram para essa atividade unicamente para enriquecer, tamanhas são as
oportunidades postas a seu desfrute. Financiamentos públicos, fundos
partidários e, agora, os chamados fundos eleitorais, tudo isso sem contar com
as infinitas regalias financeiras obtidas com o cargo, além, é claro da
prerrogativa de ser investigado, sine die, por instâncias superiores da
Justiça.
As gigantescas manifestações de rua que se sucederam por todo o país
deixaram clara a insatisfação da população com os políticos e, principalmente,
com suas legendas. Nessas manifestações, era possível ver cartazes com a
inscrição “eles não me representam” ou “meu partido é Brasil”.
A descrença da sociedade nos partidos políticos divide a população
brasileira ao meio. Metade deseja uma democracia sem partidos — pelo menos sem
esses que aí estão. Pesquisas de opinião pública asseguram que os políticos e
suas siglas estão entre os campeões de desconfiança. Muitos políticos,
conhecedores desse fato, evitam aparecer em aglomerações públicas, com medo da
reação das pessoas. Os partidos, por sua vez, não se esforçam sinceramente para
melhorar a imagem. Pelo contrário, às vezes, usam o argumento da contratação de
agências que cuidam da imagem de instituições apenas para justificar mais
gastos.
Com o todo o volume de denúncias que vêm ocorrendo, por conta dos
escândalos de corrupção, não se observa modificação no comportamento dos
partidos. Nenhum dos parlamentares sob investigação foi afastado de suas
legendas, nem aqueles que estão presos. É perfeitamente possível, dentro do
voto distrital, a candidatura de indivíduos avulsos e sem legendas. Muito mais
importante do que legendas fictícias são propostas concretas, sintonizadas com
o desejo da população. Mesmo a questão da reforma partidária, agora em tela,
vem sendo costurada às pressas, longe do público, por pessoas citadas pelo
Ministério Público, apenas para resolver as muitas pendengas com a lei que
estão por vir. Democracia sem partidos desse naipe é mais do que possível, é
urgente.
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A frase que foi pronunciada
“Os homens graves e melancólicos ficam mais leves graças ao que torna os
outros pesados, o ódio e o amor, e assim surgem de vez em quando à sua
superfície.”
(Friedrich Nietzsche)
Bom entendedor
A única coisa que cai para o consumidor é o problema no seu colo. Se,
depois da crise de energia e água por falta de competência gerencial, o valor
das contas aumentou, que o brasileiro não espere ofertas de carnes.
(*) Por Circe Cunha – Coluna “Visto, lido e
ouvido” – Ari Cunha – Correio Braziliense – Foto/Ilustração: Blog - Google