As obras de reforma da biblioteca estão paradas e sem previsão de volta
Prestes a completar 45 anos de história em
Brasília, a Biblioteca Demonstrativa Conceição Moreira Salles está fechada e
sem data marcada para reabrir. A Defesa Civil interditou o estabelecimento, à
época vinculado à Fundação Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro, em 6 de maio
de 2014, por risco de queda da marquise, contaminação da água e perigo de
curto-circuito e incêndio. O espaço, na 306/307 Sul, deveria voltar a funcionar
em 180 dias, após uma reforma paga com dinheiro público e realizada por uma
empresa contratada sem licitação, no valor de R$ 794 mil. No período, a
responsabilidade pela instituição foi repassada para o Ministério da Cultura,
que não designou um responsável para acompanhar a reforma. Com isso, a empresa
teve de suspender os trabalhos até o fim do contrato.
Os móveis
da biblioteca estão cobertos com lonas e lençóis, e parte do acervo,
encaixotada. Ninguém informa o que foi feito do restante. O ministério mantém
seguranças e um funcionário no local para, supostamente, impedir a invasão e a
depredação do local. A reportagem do Correio esteve na biblioteca com o
presidente da Sociedade dos Amigos da Biblioteca Demonstrativa, Mauro Mandeli.
A segurança, no entanto, impediu o acesso da equipe. “Faremos uma manifestação
em frente ao prédio em 6 de maio, quando a interdição completará um ano. Na
última quinta-feira, enviei um ofício ao ministro da Cultura, Juca Ferreira,
pedindo um esclarecimento.”
A
sociedade conta com 1,5 mil membros. Quando aberta, a biblioteca recebia cerca
de 700 pessoas por dia. O espaço tem um acervo de 60 mil títulos e 130 mil
tomos e sediava diversos projetos gratuitos, entre eles, trabalhos de iniciação
musical, debates, visitas de contadores de história, lançamentos de livro e
professores para tirar dúvidas de concurseiros e vestibulandos. Professor da
Faculdade de Educação da Universidade de Brasília, Paulo Bareicha também
criticou o Minc (leia Palavra de especialista). “Durante a Segunda Guerra
Mundial, as bibliotecas de Londres só fechavam quando os nazistas bombardeavam
a cidade. Como podemos parar uma biblioteca, interditada por tempo
indeterminado para manutenção?”
Por
e-mail, a reportagem questionou o Ministério da Cultura sobre a demora da
reabertura e o destino do acervo. A Diretoria de Livro, Leitura, Literatura e
Bibliotecas do órgão, responsável pela Biblioteca Demonstrativa, ainda não
concluiu a avaliação da reforma e será necessário um novo processo licitatório
para conclusão dos trabalhos, com novos gastos. Ainda de acordo com a nota, as
instalações elétricas continuam precárias, pois “durante o contrato emergencial
foram concluídas a recuperação da marquise e a troca da caixa d’água”.
Palavra de especialista - Abandono inaceitável
“Em primeiro lugar, é
inaceitável que uma cidade planejada e jovem como Brasília, com um estádio das
proporções do Mané Garrincha, não tenha bibliotecas igualmente monumentais.
Outra coisa inaceitável é o abandono do projeto de Brasília. A biblioteca é um
dos aparatos educativos previstos nas superquadras, além das escolas parque. A
Demonstrativa, no entanto, é a única que segue esse molde, e está fechada. A
Asa Sul deveria ter três bibliotecas iguais na parte de cima do Eixão e a mesma
coisa, na Asa Norte. E, ainda assim, não atenderíamos toda a população. É um
absurdo fechar uma biblioteca, se a intenção não é aumentá-la. Não temos o que
comemorar.”
Paulo Bareicha é professor da Faculdade de Educação da Universidade de Brasília (UnB)
Fonte: Por Luiz Cacagno - Correio Braziliense