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O inferno abre as portas


O inferno abre as portas

O Brasil, há um bom tempo, está mergulhado nos abismos de seu próprio inferno. Em um cenário dantesco, diariamente, estamos sendo apresentados às nossas próprias fraquezas, provações, crimes e vícios. O assassinato brutal de Marielle Franco e seu motorista é apenas mais uma face dessa tortura. Nosso país virou algo horrendo de se encarar.

No mesmo dia em que Marielle foi morta, em outro ponto do Rio de Janeiro, um homem de 43 anos foi assassinado em um assalto na frente de seu filho de 5 anos. Duvidar que o futuro psicológico dessa criança está abalado para todo sempre é zombar das curvas do destino. Na segunda, uma grávida de 21 anos foi morta em casa e os médicos tiveram que fazer uma cesárea às pressas para tentar salvar o bebê, que segue em estado grave. Virou moda grávidas mortas no Rio.

A Lava-Jato escancarou um submundo da política o qual todos conhecíamos, mas, justiça seja feita, sabíamos pouco ou não tínhamos coragem de remexer. Sempre haverá quem se escore no discurso da parcialidade e da seletividade. Mas é bom lembrar que a ceifa está rolando para todos os lados e é simplismo adotar um discurso de vítima.

A violência do Brasil não é atual, nem é pouca. Nas periferias dos grandes centros, morre-se e mata-se com a mesma naturalidade com que se discute futebol ou se compra um cacho de bananas na feira, no domingo de manhã. No Nordeste, replica-se, há décadas, o causo ou a piada envolvendo o pistoleiro Chapéu de Couro: “Chapéu, você não tem remorso de matar os outros? Oxi! Remorso não, eu tenho é costume”.

Com a decisão do governo federal de intervir no Rio de Janeiro, o debate da violência organizada recrudesceu. A despeito de todos os contornos de uma ação política eleitoral, e das nossas autoridades, resolveram assumir sua total falta de capacidade de controlar o caos que aí está. Se as Forças Armadas eram uma boa saída ou se elas conseguirão dar um mínimo de ordem no que presenciamos é um debate necessário e que será travado. Só não há como negar que os limites para a falta de ação já foram há muitos ultrapassados.

Violência e corrupção são dois círculos dessa ciranda de terror em que estamos mergulhados. Amantes da literatura lembrarão que, se a vida imitar a arte de Dante Alighieri, ainda restam outros sete círculos a serem abertos. O Brasil não está fácil e pode ser que, lá na frente, ressurja um país melhor. É rezar para que essa apneia à qual os brasileiros estão submetidos não nos mate antes.


Por Paulo de Tarso Lyra – Correio Braziliense – Foto/Ilustração: Blog - Google



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