Cuidado com golpes digitais - Sites piratas de
compra e venda atraem vítimas com ofertas tentadoras que, ao final, causam dor
de cabeça e prejuízo ao consumidor desavisado
*Por Isa Stacciarini
Comprar um produto e nunca recebê-lo. Alugar uma
casa para passar férias e não ter a reserva garantida. Vender uma mercadoria e
nem sequer ver a cor do dinheiro. Essas são apenas algumas das modalidades de
golpes que criminosos têm aplicado na internet. Sem desconfiar do esquema, as
vítimas cedem aos pedidos quase sempre orquestrados. Só depois de ficar no
prejuízo, elas se dão conta que foram alvo de estelionatários. Em alguns casos
as pessoas lesadas conseguem recuperar o bem ou o valor, mas, quase sempre,
perdem dinheiro ou a mercadoria. Em certas situações, chegam a ser ameaçadas
caso procurem a polícia.
Segundo o delegado-chefe da Delegacia Especial de
Repressão aos Crimes Cibernéticos (DRCC), Giancarlos Zuliani, as vítimas, em
geral, são pessoas entre 20 e 40 anos. “Não é questão de nível nem de formação.
As pessoas caem no golpe em um momento de distração e não percebem. A dica é
sempre desconfiar”, ressaltou.
Zuliani contou que os criminosos agem em vários
esquemas na internet e variam a forma de atuação. “Trata-se de um pessoal
engenhoso para cometer crimes. Eles se utilizam disso para enganar as pessoas
em sites falsos, em e-mails pedindo informação sobre o produto e agindo no que
a gente chama de força bruta, que são as tentativas para descobrir as senhas
fáceis”, explicou.
No entanto, o investigador descarta a participação
de funcionários de empresas de venda na internet nesses golpes. No caso dos
e-mails falsos para tentar passar credibilidade, eles usam o nome do site, mas
com um domínio diferente. “É importante que as pessoas tomem muito cuidado e
confiram antes o e-mail para se certificar se, de fato, trata-se do original. É
possível fazer isso vendo o próprio código da fonte no e-mail”, esclareceu.
O coordenador de Repressão a Crimes contra o
Consumidor, Ordem Tributária e Fraudes (Corf), delegado Wisley Salomão, contou
que um dos casos investigados na unidade é de uma pessoa que alugou uma casa em
Búzios para passar as férias com a família, mas, quando chegou ao destino, não
tinha reserva. “Geralmente os depósitos desses valores são feitos em contas
fora do DF, que é o local onde se consuma o crime. Não temos casos de
recebimento de vantagens aqui”, explicou.
Ele recomendou ao internauta verificar a
procedência dos sites e, antes de fechar negócio, procurar sugestão de quem já
teve experiência com a empresa. “Além disso, preferencialmente é recomendado
que não se pague tudo de uma vez, porque, em caso de prejuízo, a perda é
menor”, destacou.
Sem suspeitas
Organizados, os bandidos criam uma história bem
planejada para ludibriar as vítimas e chegam a enviar e-mails falsos com nomes
de empresas reais para tentar passar credibilidade. Outra tática é a
celeridade. Para tentar agir com rapidez e não levantar suspeitas, eles pedem o
envio da mercadoria o quanto antes — quando a vítima tenta vender o produto em
supostos sites de compra/venda — ou oferecem um preço abaixo do mercado nas
situações em que o internauta se interessa pela mercadoria. Depois de garantir
o golpe, eles desaparecem.
Foi o que aconteceu com uma moradora da Asa Sul. A
bióloga M., de 38 anos, que tem medo de ser identificada, se interessou por um
celular anunciado por R$ 2,7 mil em um site especializado de vendas na
internet. A vítima manteve contato com uma mulher que estava no Rio de Janeiro
durante alguns dias. Convincente, a estelionatária contou que estava de mudança
para os Estados Unidos com o marido e compraria produtos eletrônicos novos. Por
isso, ofereceu um valor menor.
Para ganhar a confiança da interessada, a mulher
ainda enviou a ela documentos, como carteira de motorista, e um número telefone
que seria da mãe, caso a mercadoria chegasse quando ela já estivesse,
supostamente, a caminho dos EUA. Quando recebeu o comprovante de depósito,
enviado pela vítima, a suspeita enviou a caixa onde estaria o celular. “Fiquei
acompanhando a encomenda e vi que foi entregue em um endereço de Planaltina de
Goiás. Mas como meu CEP estava certo, pensei que ia bater lá e voltar. No outro
dia deu como objeto entregue. Descobri que tinha ido para uma escola. Liguei no
colégio e a diretora contou que, dentro da caixa, havia uma farinha de kibe”,
explicou a bióloga.
Nas fotos que chegaram para a vítima, ela conferiu
que o CEP da encomenda estava correto, mas o endereço tinha sido trocado. A
mulher tentou falar com a suposta vendedora, mas ela nunca mais atendeu. A
bióloga também ligou para o número que recebeu como sendo da mãe da
estelionatária, mas não conseguiu falar com ninguém. “Contratei um motoboy do
Rio de Janeiro para ir atrás dela. Ele chegou a encontrá-la, mas ela negou a
identidade e não passou mais informação”, explicou.
Chateada, a vítima contou que, antes de fazer
contato com a tal vendedora, chegou a desconfiar de outros anúncios, mas nunca
levantou suspeitas com o qual tinha fechado negócio porque tudo parecia real.
“O dinheiro eu não tenho esperança de receber, mas espero que ela não faça mais
isso com ninguém. Fica a lição.”
Compra falsa
O arquiteto Rodrigo Trigueiro, 26 anos, por pouco
não foi vítima em um esquema de mensagem em e-mail falso. Ele anunciou, em um
site de vendas, um notebook por R$ 1 mil. No segundo dia recebeu um suposto
e-mail da empresa dizendo que ele havia realizado a venda. A mensagem
apresentava orientações para envio do produto, como endereço, de São Paulo, o
CEP e o nome da pessoa. A única exigência: que a mercadoria fosse enviada por
Sedex e, portanto, o mais rápido possível. “Estava escrito que eles pagariam
até R$ 200 para eu encaminhar o produto e, por motivo de segurança, o comprador
tinha que receber a mercadoria para, depois, eu ter acesso ao valor da venda.
Para mim, fez todo sentido, porque como ia receber sem antes mandar o notebook?
De boa-fé, enviei”, contou.
Satisfeito por ter concretizado a venda em pouco
tempo de anúncio, Rodrigo enviou ao e-mail o código de rastreio da mercadoria
para ser acompanhada e ainda informou que o produto chegaria no outro dia. Mas,
logo depois, o arquiteto recebeu uma mensagem estranha. “Eles falaram que não
conseguiram tirar o anúncio do ar e pediram que eu fizesse isso. Achei estranho
e comecei a desconfiar. Depois fui pesquisar na internet e vi que era um golpe.
Por sorte não perdi o produto, porque consegui bloquear a entrega”, ressaltou.
Depois de ter bloqueado a entrega, Rodrigo ainda
recebeu um e-mail do golpista perguntando o que tinha acontecido por não ter
recebido a entrega. “Respondi para ele não fazer isso mais com as pessoas e,
nunca mais, tive retorno.”
Sem ficar no prejuízo - Dicas para não cair em golpes de
negócios feitos pela internet
» Confira o domínio do e-mail que você recebeu e
certifique se é verdadeiro
» Faça uma pesquisa prévia sobre as formas de
compra e venda pela internet
» Antes de procurar pela empresa, peça sugestão a
pessoas mais próximas que já tiveram alguma experiência com o site
» No caso de uma venda, prefira o pagamento em
parcelas, porque, em caso de prejuízo, a perda é menor
» Desconfie de preços muito baixos
» Só entre em redes wi-fi conhecidas e use um
antivírus na máquina
» Opte por sites mais utilizados e verifique a
segurança da página
» Acompanhe a movimentação do cartão utilizado na
transação
» Não forneça informações pessoais desnecessárias
Fonte: Polícia Civil do DF e site Totlab
(*) Isa
Stacciarini – Correio Braziliense – Foto/Ilustração: Blog - Google